Paradigmas são as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência.”
(Kuhn, 1997)

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Lesões musculares

Lesões Musculares

Tyson Gay

  As lesões musculares vêm sendo estudadas por muitos pesquisadores, devido ao grande número de ocorrências. Porém ainda é escasso os estudos clínicos na área, provavelmente, pela falta de heterogeneidade na gravidade dos ferimentos e aos diferentes músculos lesionados, tornando-se muito exigente para realizar ensaios clínicos(4). A maior compreensão sobre os mecanismo de lesão, as alterações histológicas e bioquímicas das células, após uma lesão  ajuda os profissionais a diagnostica-las e trata- las de forma adequada, proporcionando um tratamento efetivo. Segundo dados, as lesões musculares são as lesões mais recorrentes na prática esportiva, com uma incidência variando entre 10% e 55% de todas as lesões (1), sendo que cerca de 90% das lesões localizam-se na pelve e membro inferior (2).
  As lesões podem ocorrer de forma direta e indireta, podem ser parcial e total. Além disso, podem ser classificadas em traumáticas, como o estiramento, contusão e a laceração, ou atraumáticas, onde se enquadram a cãibra e o dolorimento muscular(2).

  O estiramento muscular ocorre de forma indireta, local mais acometido é a junção miotendínea ou na inserção tendinosa do osso, os músculos biarticulares estão mais propensos, devido à grande quantidade de fibras do tipo II, e há presença de hematoma(2). Os estiramentos são classificados em três graus, conforme a extensão e o número de miofibrilas lesionadas.

  A contusão muscular ocorre de forma direta, é caracterizado por dor, edema difuso, hematoma discreto e limitação de força e mobilidade. São classificadas conforme as restrições da mobilidade articular, podendo ser leve ou grave (2). A laceração muscular é caracterizada pela formação de cicatriz fibrosa.

Angel Di María sofreu contusão. Fonte:gazetaesportiva.net 

   A rotura de pequenos vasos do tecido celular subcutâneo ou da própria derme dará origem à equimose, e  na rotura de vasos mais calibrosos, o sangue pode infiltrar-se no tecido celular subcutâneo e nos músculos, permanecer coletado entre os septos intermusculares ou entre o músculo e o osso, formando hematomas (5). Estes podem ser intermuscular, o qual o sangue extravasa pela fáscia muscular e septos intermusculares, e intramuscular, no qual o sangue não extravasa ( mais difíceis de serem resolvidos e possuem maior índice de complicações)(2).
  O diagnóstico de uma lesão muscular começa com uma história cuidadosa da ocorrência do trauma, seguido de exame clínico que consiste de inspeção e palpação dos músculos envolvidos, bem como testes da função dos músculos feridos ambos sem e com resistência externa. O diagnóstico clínico de lesão muscular é suficiente na maioria dos casos, mas a ultra-sonografia pode ser considerada uma ferramenta válida para uma caracterização mais exata da lesão. A Ressonância magnética, pode ser utilizada quando há discrepância existente entre os sintomas do paciente e as conclusões médicas(6).

Tyson Gay

  O tratamento imediato para as lesões musculares é a técnica PRICE(  pressão, repouso, gelo, imobilização e elevação ). O objetivo do protocolo é para cessar o sangramento, assim, minimizando a extensão da lesão (4), importante aplicar várias vezes, durante 15 à 30 minutos.
  Apesar da  imobilização demonstrar alguns efeitos benéficos na fase inicial de regeneração muscular, ela também tem vários efeitos clinicamente indesejados. Por exemplo, a inatividade pode estar associada à significativa atrofia das fibras musculares saudáveis​​, a deposição excessiva de tecido conjuntivo dentro do tecido muscular, e um retardo na reabilitação  da força do músculo esquelético, danificado durante o período de imobilização. Em resumo, um curto período de imobilização após a lesão muscular é benéfica, mas deve ser limitado apenas para os primeiros dias após a lesão (6).
  Os efeitos positivos da mobilização precoce na regeneração do músculo esquelético lesado, não são limitados apenas a alterações histológicas, como tem sido demonstrado, que a força do músculo lesionado retorna ao nível do músculo sem ferimentos mais rapidamente, do que se o músculo tivesse sido imobilizado após o trauma(3). Alguns trabalhos mostram que a mobilização ativa logo após a lesão, podem favorecer a re-rupturas no mesmo sitio da lesão, o que prolonga o retorno as atividades físicas.
Leandro Vissotto

  O protocolo de reabilitação, segundo Cohen et.al , consiste em 4 fases:
·         Fase 1 ( 1ª semana): Objetivos: diminuir a dor, controlar processo inflamatório e manter a condição física. Conduta: TENS, PRICE (48-72h), US pulsado e condicionamento dos segmentos adjacentes à lesão.
·         Fase 2 ( 2- 3 semanas): Objetivos: auxiliar reparação tecidual, restaurar flexibilidade, ganhar força muscular, melhorar o controle sensoriomotor e manter a condição física. Conduta: OC/ US contínuo, alongamentos na tolerância do paciente, exercícios isométricos e isotônicos, inicio do trote e bicicleta ergométrica com carga mínima.
·         Fase 3 ( 4 semanas): Objetivos: ênfase no ganho de flexibilidade e ganho de força, melhora do controle sensoriomotor, manutenção da condição física. Conduta: alongamentos muscular e exercícios resistidos isotônicos, enfatizando o treino excêntrico, inicio do treino pliométrico, trote e inicio da corrida, evolução do treino sensóriomotor.
·         Fase 4 ( 5 semanas): Objetivo: retorno as atividades esportivas. Conduta: evolução do treino pliométrico, treino esportivo e reintrodução ao esporte.
Vale lembrar que cada caso é invidual e a progressão deve ocorrer conforme o paciente

 
  Dentre outras métodos utilizados é a  terapia de oxigênio hiperbarica e o uso de plasma rico em plaquetas( PRP), que ainda é questionado quanto a eficácia, necessitando de  mais estudos para seu uso( 7).
  Portanto, uma lesão muscular não deve ser negligenciada. Um médico deve ser procurado para realizar o diagnostico e em lesões com niveis mais importantes devem ser acompanhadas por um fisioterapeuta. A reabilitação de lesões musculares é importantissima, assim, evitando maiores danos futuros.





Referências
1.      Beiner JM, Jokl P. Muscle contusion injuries: current treatment options. J Am Acad Orthop Surg. 2001 9:227-237
2.      Cohen,M, Abdalla,RJ. Lesões nos Esportes: Diagnóstico, prevenção e tratamento.Cap 42.Ed. Revinter.
3.      Järvinen M. Healing of a crush injury in rat striated muscle, 4: effect of early mobilization and immobilization on the tensile properties of gastrocnemius muscle. Acta Chir Scand. 1976;142:47-56

4.      Jarvinen, TAH; Jarvinen , TLN; Aarima, V; Vaittinen, S; Kalimo, H; Jarvinen, M. Muscle injuries: optimising recovery. Best Practice & Research Clinical Rheumatology. Vol. 21, No. 2, pp. 317–331, 2007
5.      Lopes, AS; Kattan, R ; Costa, S; Moura, CE. Estudo clínico de classificação das lesões musculares. Rev Bras Ortop – Vol. 28, Nº 10 – Outubro, 1993.
6.      Tero A. H. Järvinen, Teppo L. N. Järvinen, Minna Kääriäinen, Hannu Kalimo and Markku Järvinen. Muscle Injuries. Am J Sports Med 2005 33: 745
7.      Harmon, KG; Muscle injuries and PRP: what does the science say?. Br J Sports Med July 2010 Vol 44 No 9

Postado por Alessandra V.P.B

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